segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Travessia pelo Caminho de Santiago

Olá pessoal,
   nosso grande amigo Lincoln Neves realizou mais uma bela cicloviagem a qual compartilha conosco abaixo!

“Amigos do Domingueiras,

   Gostaria de enviar um breve relato sobre uma travessia pelo Caminho de Santiago que realizei no último mês de Setembro pelo chamado Caminho Francês.

   A saída é de Saint Jean (França) terminando na Catedral de Santiago (Espanha) em cerca de 830 km que foram pedalados no meu caso em 13 dias contínuos. O caminho começa com uma grande subida de 26 km passando por vilarejos Franceses. O respeito com o peregrino/bicigrino é impressionante.

   Sem grandes motivações, mas com grande interesse no trajeto em si, parti do Brasil rumo a França e aluguei uma bike que me foi entregue no ponto de partida desmontada.

   Estava tão empolgado com o início da travessia que nem percebi o erro de montagem que cometi e só fui me dar conta no km 530 após um alemão que conheci na estada me alertar.

   O caminho de Santiago é uma experiência única e para nós ciclistas, uma incrível sopa de todo tipo possível de terreno, altimetria, condições climáticas e paisagens tudo sob uma pano de fundo cultural de séculos e pessoas do Mundo inteiro (literalmente tive interação com no mínimo umas 40 nacionalidades diferentes).

   Quando escrevo todo tipo é todo tipo mesmo.... terra, asfalto, pedra, areia, água e lama, folhagem batida... Subidas, descidas, retas... Bosques, rios, vinícolas, pastagens, plantações variadas, cidades, vilarejos, pontes, estradas....

   Todo o caminho é sinalizado com umas setinhas amarelas que você vai perseguindo... não precisa de GPS... se ficar 3 quilômetros sem ver uma pode ter certeza que errou o caminho.

   O dia para os ciclistas começa um pouco mais tarde em relação aos peregrinos que estão caminhando (grande maioria, algo como 90% do total)... Na hora do almoço uma leve refeição com frutas para reiniciar a pedalada da tarde. No período que eu estava lá o sol estava presente até umas 21:00 horas o que dá total flexibilidade para pedalar num ritmo tranquilo. 

   A noite após o dia (geralmente uns 70km) encontra-se um albergue peregrino (a cada 5 km tem no mínimo um) e depois de um banho pode-se apreciar um dos inúmeros “menu do peregrino” espalhado por todos os locais durante o caminho. Este cardápio contem entrada, prato principal, sobremesa, pão e vinho a vontade por poucos Euros e é feito em mesas comuns onde você compartilha com outros peregrinos. 

   Durante o dia o que mais se fala é “bom caminho”, quase sempre correspondido por um sorriso. A energia presente nas pessoas que estão fazendo o caminho é surpreendente e eu nunca tive uma experiência igual. Me impressionou também a quantidade de peregrinos com mais de 50 anos. Parece que se está em um Mundo paralelo, sem bandeiras. As pessoas apenas estão caminhando, focadas em um objetivo final comum mas cada qual com sua motivação pessoal.

   Os ciclistas como vão mais rápido que os caminhantes acabam cruzando com mais pessoas, embora em interações mais rápidas. Somos vistos mais como esportistas aventureiros do que como alguém fazendo uma peregrinação. É necessário ter muito cuidado para não atropelar ninguém e muitos peregrinos tomam sustos quando passamos (geralmente estão concentrados ou ouvindo música com os fones de ouvido)! Portanto, o respeito com o peregrino é muito importante. As vezes você se pega tão absorvido pelas paisagens que está cruzando que é perder o foco na estada e quem nela está presente.

   E assim você passa (infelizmente rapidamente) duas semanas de total interação consigo próprio, dentro de uma atmosfera única de natureza e cultura secular até chegar em Santiago e pegar seu diploma. Para nós ciclistas, o caminho de Santiago (há várias rotas, mas a Francesa é a mais popular) uma fantástica experiência física-cultural que recomendo a todos que gostam deste hobby.

   Tecnicamente levei exatos 7,2 kg de bagagem, nem mais nem menos e foi plenamente suficiente – mais uma lição de simplicidade e desprendimento que o caminho ensina, mesmo antes de começar. Aluguei uma specialized 29" com uma boa suspensão (dianteira apenas) e um bom freio.
Com exceção de uma tempestade de raios que me surpreendeu na subida de ferro (no meio da floresta, sem proteção) que me deu os piores e mais longos 10 minutos de minha vida em uma mountain bike, o caminho foi feito de forma relativamente fácil do ponto de vista físico. 

   Para quem está acostumado com os pedais do Domingueiras, não há muita dificuldade física.. alguns trecho são mais técnicos mas indo devagar não há problemas... É só pedalar, refletir e ir sentindo o caminho. Não necessita de nenhuma preparação prévia em termos de planejamento... Não planeje, deixe o caminho te levar e faça uma quilometragem livre, pedalando enquanto estiver bem. A única coisa que eu tinha era um mapa com a altimetria do percurso todo.





Recomendo amigos !
Lincoln Neves” 

3 comentários:

  1. Lincoln,
    belo relato e muito bonitas as fotos. Tenho certeza que todos irão gostar muito e parabéns por mais esta cicloviagem. Valeu também por lembrar dos amigos do Domingueiras levando consigo a verdinha no peito! Show!

    Abs,
    Denis

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  2. TENHO VONTADE DE FAZER A PÉ UM SONHO DE UM PAULINENSE.

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    1. Todos temos viu, rs. Deve ser um experiência riquíssima tanto pela viagem quanto pelo aspecto cultural... Foi realmente uma bela viagem.

      Abs,
      Denis

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