Mulheres de 30 puxam a venda de bicicleta infantil

Musa, da Caloi: maior número de ciclovias incentivou mulheres a pedalar; por segurança, elas preferem bicicletas aro 24.

Um movimento curioso, em torno dos hábitos dos consumidores, teve efeito na estratégia de investimento em produtos da Caloi. Maior empresa brasileira de bicicletas, a companhia identificou dois novos perfis de compradores que ampliaram a demanda pelos produtos infantis, responsável por metade do faturamento da empresa. Um volume maior de mulheres na faixa dos 30 anos, e crianças com idade mais avançada, acima dos nove anos, passaram a comprar a primeira bicicleta no último ano.

Com a criação de ciclovias em grandes cidades, mais mulheres passaram a pedalar. E elas têm escolhido as bicicletas de aro 24 - o modelo para crianças na pré-adolescência - para iniciar a nova rotina. "Como elas ficam meio inseguras porque estão começando ou reaprendendo a pedalar, acabam buscando um modelo menor, feito para crianças mais velhas", diz Eduardo Musa, presidente da Caloi.

"Percebemos que nossas vendas do modelo aro 24 crescem acima da média. Mas só entendemos o que estava acontecendo nas nossas conversas com o varejo", conta.

Outro novo hábito, que também foi identificado recentemente, envolve crianças na fase da puberdade. Com o maior lançamento de condomínios com áreas verdes nas capitais, as famílias têm frequentado esses locais num momento em que os filhos já estão com idade avançada. "Crianças que passaram parte da infância jogando videogame têm se mudado para condomínios maiores em que podem pedalar", conta ele. "São filhos com 9 ou 10 anos, que acabam pedindo rodinhas laterais de segurança porque eles ainda não sabem andar de bicicleta", conta.

Por conta desse cenário, a Caloi adaptou a sua estratégia de lançamentos à demanda crescente por bicicletas infantis. A companhia definiu que 60% dos novos produtos a serem lançados em 2011 devem atender esse público. Historicamente, essa taxa não passava de 50%. Serão lançados cinco produtos para o segmento infantil neste ano, contra três para o público adulto. Desse total a ser vendido para as crianças, dois serão aro 24.

Para ampliar a área para a produção dos modelos infantis na fábrica de Atibaia (SP), no ano passado a empresa transferiu a linha de bicicletas de maior valor agregado, com preços acima de R$ 700, para Manaus (AM). A linha transferida equivale a produção de 100 mil unidades por ano. "Abrimos espaço para crescer em Atibaia", conta Musa. Em março, a Caloi se juntou à Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) com o intuito de trabalhar de forma específica o segmento de bicicletas para crianças.

Para este ano, a Caloi, que importa parte das peças da China, espera produzir um milhão de bicicletas no país, uma alta de 25% sobre o número verificado no ano passado, quando a expansão foi de 15%. Metade da produção da companhia hoje atende o mercado adulto, que ainda responde pela maioria do faturamento (65%). Em relação às vendas totais, a expectativa é crescimento de 30% em relação a 2010, quando a empresa faturou R$ 212 milhões.

Além do aumento das áreas para o uso da bicicleta nas cidades, a ampliação na renda do brasileiro, o parcelamento das compras em até 12 vezes e a maior concorrência (que ajuda a evitar alta nos preços) explicam esse crescimento.

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